domingo, 13 de outubro de 2013

O Renascimento - Peter Burke

Capitulo 1 – O MITO DO RENASCIMENTO

O autor inicia o livro contestando o termo Renascimento com R maiúsculo, explicando a origem do termo, no século XIX, especialmente na Itália e qualificando a ideia de Renascimento como um mito, em duplo sentido, ou seja, tanto uma afirmação enganadora do passado, quanto o simbólico extraordinário. Além disso, o autor salienta que já houve outros movimentos de renascimento cultural que, no entanto, não foram considerados Renascimento. Os próprios medievalistas contestam a originalidade do Renascimento alegando que muitos de seus elementos já estavam presentes na Idade Média. O autor conclui, por fim, que o termo pode ser usado como conceito organizador, desde que sem prejuízo para a Idade Média.

Capítulo 2 – ITÁLIA: REVIVALISMO E INOVAÇÃO

O autor explica que o Renascimento na Itália se deu como resultado de 300 anos de mudanças culturais. Também é estabelecida uma relação entre Renascimento e humanismo e a recuperação de textos clássicos gregos e salientando que os elementos clássicos eram mais facilmente observados na arquitetura. Na pintura, o que se pode observar é a descoberta da perspectiva linear. Além da arquitetura, escultura e pintura, também na literatura e nas artes liberais. O artista era, até então, comparado ao tecelão, ao artesão. Nesse momento ele começa a emergir. Além disso, houve um renascimento do latim clássico e a recuperação  dos gêneros literários romanos.
Há, ainda, a reflexão a respeito do humanismo, palavra surgida no século XV, referindo-se aos professores de humanidades, e a definição dos quatro níveis de existência: existir, viver, sentir e pensar e os quatro tipos de ser humano: o mandrião, o glutão, o vaidoso e o estudioso: “só os humanistas são verdadeiramente humanos” (p. 27). O humanismo também constituiu um esforço para imitar o sistema educacional da antiguidade com ênfase em humanidades, opondo-se à lógica medieval. Houve novas interpretações de textos clássicos e medievais.

Leda e o cisne - Leonardo da Vinci

Também nessa época, a imitação não era sinônimo de falta de talento. A ideia era assimilar o modelo e ultrapassá-lo, não se limitando a ele. Uma questão interessante é o conflito de temas surgido da diferença de linguagem e de aspectos culturais que se observa em dois períodos históricos distintos. Apesar da ideia de imitação, não havia palavras em latim para descrever algumas realidades do século XVI, assim como havia a diferença de temática da antiguidade clássica para a realidade do Renascimento, que acabou por criar híbridos entre o clássico e o cristão.

A criação de Adão - Michelangelo

O autor salienta, ainda, que as artes visuais a recuperação dos modelos clássicos é mais difícil de ser observada do que na literatura, mas há indícios de reconciliação da antiguidade com o cristianismo. Além disso, não há uma ruptura com a arte realizada no período medieval, mas a insatisfação com a mesma e, portanto, uma mudança gradual.
Também não foi casual que o Renascimento tenha surgido na Itália, onde Roma foi o alvo do entusiasmo, já que a Grécia integrava o Império Otomano e, portanto, apresentava um acesso mais difícil aos escritores e poetas. Os italianos do Renascimento celebravam, portanto, seus antepassados.
Outra característica do Renascimento é o fato de ser um movimento urbano e de minorias: humanistas, patrícios, prelados ou príncipes e artistas. Além disso, mesmo a recuperação dos modelos clássicos tinha diferentes significados para cada grupo. Os nobres e patrícios assimilam hábitos, como ler e discutir Platão ou colecionar objetos com características clássicas. As mulheres também integram o Renascimento, na pintura e na literatura.
Vasari divide o Renascimento em Primeiro Renascimento, Segundo Renascimento e Alto Renascimento e, embora com objetivos iguais, cada um deles tendia a ser superiores ao anterior.

O nascimento de Vênus - Botticelli


Capítulo 3 – o renascimento no estrangeiro: os usos de itália

No terceiro capítulo, o autor fala sobre o Renascimento no estrangeiro, explicando que muitos autores tendem a ver os artistas estrangeiros (não italianos) como menos criativos. Porém, nos Países Baixos, com Jan Van Eyken e Roger Van der Weyden, novas técnicas de pintura foram desenvolvidas e muito apreciadas na Itália.
Para explicar estas críticas, o autor pontua a diferença entre produção cultural e consumo, evocando a “teoria da recepção”, ou seja, como o Renascimento foi incorporado fora da Itália, o que vale também para os Italianos que migraram durante esse movimento cultural, especialmente entre 1430 e 1520 e também no século XV. Muitos destes artistas deixaram a Itália por outras razões que não o Renascimento, como missões diplomáticas e exílios religiosos, mas outros eram convidados por mecenas estrangeiros e outros patrocinadores da arte, como nobres e militares. Quanto à recepção destes Italianos em território estrangeiro, houve reações diversas: desde as mais calorosas até as mais frias.
Houve também a imigração no sentido contrário, dos países estrangeiros para a Itália. Embora nem todos fossem à Itália para estudar o Renascimento, muitos se influenciavam pelo contato com o humanismo.
Também ocorreu movimentação de obras e livros e, através das traduções e adaptações das obras, como O Cortesão, de Castiglione, cada localidade inseriu o Renascimento à sua forma, moldado às necessidades culturais estrangeiras. Um bom exemplo desta diferença é também a arquitetura, embora as características variassem dentro da própria Itália. Muitas vezes, as alterações eram intencionais; outras, em razão da técnica dos artesãos e do uso de diferentes materiais.
A adaptação de obras também apresentava alterações, tanto por razões linguísticas, quanto culturais.

A Anunciação - Rogier van der Weyden 

O surgimento do Humanismo cristã, mais forte no Norte dos Alpes coincidiu com a Reforma da Igreja e há uma falsa ideia de que o Renascimento italiano era pagão. O inicio do século XVI marca uma interação entre o humanismo e a teologia. O autor explica que o humanismo sobreviveu à Reforma e ao Concílio de Trento. Entre os livros do índice de Livros proibidos estavam as obras de Erasmo. No entanto, as produções literárias estavam excluídas.
Outra adaptação é o humanismo cavalheiresco, que constitui a fusão entre o movimento humanista e a cultura da aristocracia militar. O humanismo também adquiriu um aspecto político nas repúblicas de Florença, Gênova e Veneza e havia uma identificação com as repúblicas gregas. Há, no entanto, uma dúvida quanto às alterações na forma de administrar dos príncipes em outras localidades, mas, de acordo com Burke, havia uma tendência em manter a administração medieval. Por outro lado, algumas obras influenciaram de forma ampla a postura dos príncipes, além do Cortesão, de Castiglione, a Educação do Príncipe Cristão, de Erasmo e o tratado Relox de Princeps, do frade espanhol Antonio de Guevara, que influenciou Carlos V.

Madona com o menino - Jan Van Eyck 

Também o Direito Romano foi recuperado no norte dos Alpes e foi utilizado como argumento de fortalecimento do poder dos príncipes. Na prosa ficcional outras regiões europeias se destacaram mais do que os italianos. Entre os escritores, Shakespeare, Rabelais e Cervantes, todos com obras com inspiração clássica. A imprensa certamente facilitou a difusão do Renascimento, não apenas na literatura, mas na impressão dos tratados de arquitetura. A imprensa possibilitou a manutenção do movimento humanista, tecnologia com que o Renascimento Carolíngio não possuiu.
Por fim, observa-se em muitas obras o uso da cultura popular como fonte de inspiração. Rabelais mais uma vez surge como exemplo  e esta característica acompanha o enfraquecimento do Renascimento, de que trata o quarto e último capítulo do livro.
Capítulo 4 – A desintegração do Renascimento
Não há uma data para o fim do Renascimento. Entre os historiadores, as datas que o marcariam variam entre 1520 a 1630, por isso o autor usa o termo “desintegração”, ou seja, o movimento foi perdendo os contornos gradualmente.
Em 1520 considera-se que há uma transição entre o Alto Renascimento e o maneirismo, que destacava o estilo, que consistia, algumas vezes, na rejeição do clássico e da proporcionalidade, o que é mais difícil de ser observado na literatura. Tanto na Itália, quanto fora dela, não é fácil identificar os elementos maneiristas, mesmo na pintura e escultura.
De acordo com o autor, o maneirismo ou Renascimento tardio tem dois sentidos. O primeiro deles é o questionamento do que poderia sucedeu ao apogeu do Renascimento e a conclusão de que o apogeu é o esgotamento das possibilidades.  O segundo é decorrência da reforma protestante e do saque do Roma pelo exército de Carlos V, ocorrências consideradas traumáticas para os católicos e que evidenciaram ainda mais a necessidade de reforma na Igreja.
O maneirismo é cogitado como uma  resposta à crise social ou como um anti-renascimento mas Burke prefere considerar que tenha sido um Renascimento tardio onde as regras não precisavam ser observadas com tanta rigidez. Como diz Burke “o movimento neoplatônico implicava um interesse não só nos escritos de Platão mas também nos dos seus seguidores tardios como Plotino e Jâmblico que se voltaram progressivamente para o misticismo e para a magia” (p. 90). Além disso, há uma recuperação do estoicismo e do criticismo, sendo que deste último se desenvolveu a crítica de arte e a crítica literária.
O interesse pela antiguidade foi perdendo o significado em razão de alterações sofridas na sociedade como a Revolução Científica do século XVII, onde se encontram nomes como Descartes, Newton e Galileu. A Terra já não era o centro do Universo e o interesse pelo passado diminuiu consideravelmente. Alguns consideram, portanto, a era Descartes-Galileu, 1620-1630, como o fim do Renascimento.

CONCLUSÃO
O autor conclui o livro explicando que o termo Renascimento foi usado seguindo o conceito de Gombrich, ou seja, como um movimento, e não um período, cuja intenção era o resgate da Antiguidade. Apesar disso, o Renascimento pode não ser tão inovador, já que suas características podem ser encontradas em obras presentes na Idade Média. Até mesmo o humanismo e a busca pela razão já existiam muito antes. Assim, enquanto alguns autores preferem ignorar estes fatos, referindo-se ao Renascimento como peculiar a uma época e lugar, Burke prefere situar os acontecimentos da Florença do século XIV, Itália do século XV e a Europa do século XVI utilizando o termo “ocidentalização do ocidente”. Uma das maiores contribuições, segundo o autor, mas que integram um período muito mais amplo do que o definido como Renascimento, são as noções de cortesia (bom comportamento, especialmente à mesa) e a ideia de privacidade, quase inexistentes na idade média. Por fim, o autor conclui que o fascínio pela Antiguidade Clássica ocorreu em razão de serem os modelos do “bem viver”, uma espécie de guia seguro através do tempo.

FONTE:

BURKE, Peter. O Renascimento. Lisboa: Texto e Grafia. 2008. 

obs: Trabalho realizado pela aluna Lilian de Souza Pereira (proprietária deste Blog) para o curso de História da Universidade Federal de São Paulo. 

Plágio é crime: utilize as referências. 

8 comentários:

  1. bom dia
    aonde posso encontrar esse livro?

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    1. Por favor, que postura baixa fazer isso.

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    2. Olá, posso te disponibilizar em PDF. Pode mandar uma mensagem nesse e-mail da conta mesmo, ficarei feliz em ajudar.
      Ignore a postura em baixo calão da mensagem acima. Alguns não tem apreço pelo conhecimento e sua democratização.

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  2. Esse livro é maravilhoso. Otima resenha

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  3. Ótimo texto. Me ajudou muito no trabalho sobre o mito do renascimento.

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  4. boa noite. poderia disponibilizar o pdf do livro por favor?
    muito obrigada e parabéns pelo blog

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  5. Olá.. boa noite...gostaria também se possível o PDF do livro... Obrigada 😃

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