Capitulo 1 – O MITO DO RENASCIMENTO
O autor inicia o livro
contestando o termo Renascimento com R maiúsculo, explicando a origem do termo,
no século XIX, especialmente na Itália e qualificando a ideia de Renascimento
como um mito, em duplo sentido, ou seja, tanto uma afirmação enganadora do
passado, quanto o simbólico extraordinário. Além disso, o autor salienta que já
houve outros movimentos de renascimento cultural que, no entanto, não foram
considerados Renascimento. Os próprios medievalistas contestam a originalidade
do Renascimento alegando que muitos de seus elementos já estavam presentes na
Idade Média. O autor conclui, por fim, que o termo pode ser usado como conceito
organizador, desde que sem prejuízo para a Idade Média.
Capítulo 2 – ITÁLIA: REVIVALISMO E INOVAÇÃO
O autor explica que o
Renascimento na Itália se deu como resultado de 300 anos de mudanças culturais.
Também é estabelecida uma relação entre Renascimento e humanismo e a recuperação
de textos clássicos gregos e salientando que os elementos clássicos eram mais
facilmente observados na arquitetura. Na pintura, o que se pode observar é a
descoberta da perspectiva linear. Além da arquitetura, escultura e pintura,
também na literatura e nas artes liberais. O artista era, até então, comparado
ao tecelão, ao artesão. Nesse momento ele começa a emergir. Além disso, houve
um renascimento do latim clássico e a recuperação dos gêneros literários romanos.
Há, ainda, a reflexão a
respeito do humanismo, palavra surgida no século XV, referindo-se aos
professores de humanidades, e a definição dos quatro níveis de existência:
existir, viver, sentir e pensar e os quatro tipos de ser humano: o mandrião, o
glutão, o vaidoso e o estudioso: “só os humanistas são verdadeiramente humanos”
(p. 27). O humanismo também constituiu um esforço para imitar o sistema
educacional da antiguidade com ênfase em humanidades, opondo-se à lógica
medieval. Houve novas interpretações de textos clássicos e medievais.
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Leda e o cisne - Leonardo da Vinci |
Também nessa época, a
imitação não era sinônimo de falta de talento. A ideia era assimilar o modelo e
ultrapassá-lo, não se limitando a ele. Uma questão interessante é o conflito de
temas surgido da diferença de linguagem e de aspectos culturais que se observa
em dois períodos históricos distintos. Apesar da ideia de imitação, não havia
palavras em latim para descrever algumas realidades do século XVI, assim como
havia a diferença de temática da antiguidade clássica para a realidade do
Renascimento, que acabou por criar híbridos entre o clássico e o cristão.
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A criação de Adão - Michelangelo |
O autor salienta, ainda,
que as artes visuais a recuperação dos modelos clássicos é mais difícil de ser
observada do que na literatura, mas há indícios de reconciliação da antiguidade
com o cristianismo. Além disso, não há uma ruptura com a arte realizada no
período medieval, mas a insatisfação com a mesma e, portanto, uma mudança
gradual.
Também não foi casual que
o Renascimento tenha surgido na Itália, onde Roma foi o alvo do entusiasmo, já
que a Grécia integrava o Império Otomano e, portanto, apresentava um acesso
mais difícil aos escritores e poetas. Os italianos do Renascimento celebravam,
portanto, seus antepassados.
Outra característica do
Renascimento é o fato de ser um movimento urbano e de minorias: humanistas,
patrícios, prelados ou príncipes e artistas. Além disso, mesmo a recuperação
dos modelos clássicos tinha diferentes significados para cada grupo. Os nobres
e patrícios assimilam hábitos, como ler e discutir Platão ou colecionar objetos
com características clássicas. As mulheres também integram o Renascimento, na
pintura e na literatura.
Vasari divide o
Renascimento em Primeiro Renascimento, Segundo Renascimento e Alto Renascimento
e, embora com objetivos iguais, cada um deles tendia a ser superiores ao
anterior.
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O nascimento de Vênus - Botticelli |
Capítulo 3 – o renascimento no estrangeiro: os usos
de itália
No terceiro capítulo, o
autor fala sobre o Renascimento no estrangeiro, explicando que muitos autores
tendem a ver os artistas estrangeiros (não italianos) como menos criativos.
Porém, nos Países Baixos, com Jan Van Eyken e Roger Van der Weyden, novas
técnicas de pintura foram desenvolvidas e muito apreciadas na Itália.
Para explicar estas
críticas, o autor pontua a diferença entre produção cultural e consumo,
evocando a “teoria da recepção”, ou seja, como o Renascimento foi incorporado
fora da Itália, o que vale também para os Italianos que migraram durante esse
movimento cultural, especialmente entre 1430 e 1520 e também no século XV.
Muitos destes artistas deixaram a Itália por outras razões que não o
Renascimento, como missões diplomáticas e exílios religiosos, mas outros eram
convidados por mecenas estrangeiros e outros patrocinadores da arte, como
nobres e militares. Quanto à recepção destes Italianos em território
estrangeiro, houve reações diversas: desde as mais calorosas até as mais frias.
Houve também a imigração
no sentido contrário, dos países estrangeiros para a Itália. Embora nem todos
fossem à Itália para estudar o Renascimento, muitos se influenciavam pelo
contato com o humanismo.
Também ocorreu
movimentação de obras e livros e, através das traduções e adaptações das obras,
como O Cortesão, de Castiglione, cada localidade inseriu o Renascimento à sua
forma, moldado às necessidades culturais estrangeiras. Um bom exemplo desta
diferença é também a arquitetura, embora as características variassem dentro da
própria Itália. Muitas vezes, as alterações eram intencionais; outras, em razão
da técnica dos artesãos e do uso de diferentes materiais.
A adaptação de obras
também apresentava alterações, tanto por razões linguísticas, quanto culturais.
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A Anunciação - Rogier van der Weyden |
O surgimento do Humanismo
cristã, mais forte no Norte dos Alpes coincidiu com a Reforma da Igreja e há
uma falsa ideia de que o Renascimento italiano era pagão. O inicio do século
XVI marca uma interação entre o humanismo e a teologia. O autor explica que o
humanismo sobreviveu à Reforma e ao Concílio de Trento. Entre os livros do
índice de Livros proibidos estavam as obras de Erasmo. No entanto, as produções
literárias estavam excluídas.
Outra adaptação é o
humanismo cavalheiresco, que constitui a fusão entre o movimento humanista e a
cultura da aristocracia militar. O humanismo também adquiriu um aspecto
político nas repúblicas de Florença, Gênova e Veneza e havia uma identificação
com as repúblicas gregas. Há, no entanto, uma dúvida quanto às alterações na
forma de administrar dos príncipes em outras localidades, mas, de acordo com
Burke, havia uma tendência em manter a administração medieval. Por outro lado,
algumas obras influenciaram de forma ampla a postura dos príncipes, além do
Cortesão, de Castiglione, a Educação do Príncipe Cristão, de Erasmo e o tratado
Relox de Princeps, do frade espanhol
Antonio de Guevara, que influenciou Carlos V.
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Madona com o menino - Jan Van Eyck |
Também o Direito Romano
foi recuperado no norte dos Alpes e foi utilizado como argumento de
fortalecimento do poder dos príncipes. Na prosa ficcional outras regiões
europeias se destacaram mais do que os italianos. Entre os escritores,
Shakespeare, Rabelais e Cervantes, todos com obras com inspiração clássica. A
imprensa certamente facilitou a difusão do Renascimento, não apenas na
literatura, mas na impressão dos tratados de arquitetura. A imprensa
possibilitou a manutenção do movimento humanista, tecnologia com que o
Renascimento Carolíngio não possuiu.
Por fim, observa-se em
muitas obras o uso da cultura popular como fonte de inspiração. Rabelais mais
uma vez surge como exemplo e esta
característica acompanha o enfraquecimento do Renascimento, de que trata o
quarto e último capítulo do livro.
Capítulo 4 – A desintegração do Renascimento
Não há uma data para o fim
do Renascimento. Entre os historiadores, as datas que o marcariam variam entre
1520 a 1630, por isso o autor usa o termo “desintegração”, ou seja, o movimento
foi perdendo os contornos gradualmente.
Em 1520 considera-se que
há uma transição entre o Alto Renascimento e o maneirismo, que destacava o
estilo, que consistia, algumas vezes, na rejeição do clássico e da
proporcionalidade, o que é mais difícil de ser observado na literatura. Tanto
na Itália, quanto fora dela, não é fácil identificar os elementos maneiristas,
mesmo na pintura e escultura.
De acordo com o autor, o
maneirismo ou Renascimento tardio tem dois sentidos. O primeiro deles é o
questionamento do que poderia sucedeu ao apogeu do Renascimento e a conclusão
de que o apogeu é o esgotamento das possibilidades. O segundo é decorrência da reforma
protestante e do saque do Roma pelo exército de Carlos V, ocorrências
consideradas traumáticas para os católicos e que evidenciaram ainda mais a
necessidade de reforma na Igreja.
O maneirismo é cogitado
como uma resposta à crise social ou como
um anti-renascimento mas Burke prefere considerar que tenha sido um
Renascimento tardio onde as regras não precisavam ser observadas com tanta
rigidez. Como diz Burke “o movimento neoplatônico implicava um interesse não só
nos escritos de Platão mas também nos dos seus seguidores tardios como Plotino
e Jâmblico que se voltaram progressivamente para o misticismo e para a magia”
(p. 90). Além disso, há uma recuperação do estoicismo e do criticismo, sendo
que deste último se desenvolveu a crítica de arte e a crítica literária.
O interesse pela
antiguidade foi perdendo o significado em razão de alterações sofridas na
sociedade como a Revolução Científica do século XVII, onde se encontram nomes
como Descartes, Newton e Galileu. A Terra já não era o centro do Universo e o
interesse pelo passado diminuiu consideravelmente. Alguns consideram, portanto,
a era Descartes-Galileu, 1620-1630, como o fim do Renascimento.
CONCLUSÃO
O autor conclui o livro
explicando que o termo Renascimento foi usado seguindo o conceito de Gombrich,
ou seja, como um movimento, e não um período, cuja intenção era o resgate da
Antiguidade. Apesar disso, o Renascimento pode não ser tão inovador, já que suas
características podem ser encontradas em obras presentes na Idade Média. Até
mesmo o humanismo e a busca pela razão já existiam muito antes. Assim, enquanto
alguns autores preferem ignorar estes fatos, referindo-se ao Renascimento como
peculiar a uma época e lugar, Burke prefere situar os acontecimentos da
Florença do século XIV, Itália do século XV e a Europa do século XVI utilizando
o termo “ocidentalização do ocidente”. Uma das maiores contribuições, segundo o
autor, mas que integram um período muito mais amplo do que o definido como
Renascimento, são as noções de cortesia (bom comportamento, especialmente à
mesa) e a ideia de privacidade, quase inexistentes na idade média. Por fim, o
autor conclui que o fascínio pela Antiguidade Clássica ocorreu em razão de
serem os modelos do “bem viver”, uma espécie de guia seguro através do tempo.
FONTE:
BURKE, Peter. O
Renascimento. Lisboa: Texto e Grafia. 2008.
obs: Trabalho realizado pela aluna Lilian de Souza Pereira (proprietária deste Blog) para o curso de História da Universidade Federal de São Paulo.
Plágio é crime: utilize as referências.
bom dia
ResponderExcluiraonde posso encontrar esse livro?
Na bunda da sua mãe
ExcluirPor favor, que postura baixa fazer isso.
ExcluirOlá, posso te disponibilizar em PDF. Pode mandar uma mensagem nesse e-mail da conta mesmo, ficarei feliz em ajudar.
ExcluirIgnore a postura em baixo calão da mensagem acima. Alguns não tem apreço pelo conhecimento e sua democratização.
Esse livro é maravilhoso. Otima resenha
ResponderExcluirÓtimo texto. Me ajudou muito no trabalho sobre o mito do renascimento.
ResponderExcluirboa noite. poderia disponibilizar o pdf do livro por favor?
ResponderExcluirmuito obrigada e parabéns pelo blog
Olá.. boa noite...gostaria também se possível o PDF do livro... Obrigada 😃
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